O aguardado jantar desta quarta‑feira (23) na residência oficial da Câmara, em Brasília, serviu menos para destravar a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e mais para alinhar prioridades entre Planalto e base. Diante de Hugo Motta (Republicanos‑PB) e líderes partidários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi taxativo: “Não faz sentido perdoar quem nem foi condenado”.
A fala de Lula esfriou a ofensiva do PL, cujo líder na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), articula urgência para o projeto que anula penas e processos. Ausente do encontro, o deputado já havia reunido 264 assinaturas — sete além do mínimo exigido —, mas depende de Motta para pôr o requerimento em plenário. O presidente da Câmara, entretanto, reiterou a colegas a busca de “solução pactuada” com o STF, possivelmente revendo penas caso a caso em vez de promover anistia ampla.
Foco em duas pautas
Lula pediu empenho em duas propostas classificadas como “infraestrutura social”:
PEC da segurança pública — entregue ontem ao Congresso, cria fundo permanente para estados investirem em policiamento e inteligência;
Isenção de IR até R$ 5 mil — projeto que beneficia cerca de 10 milhões de contribuintes e já foi alçado por Motta ao topo da fila.
O chefe do Executivo lembrou que a base precisa garantir quórum elevado para aprovar a PEC — são 308 votos em dois turnos — e que a desoneração do IR terá de vir acompanhada de compensação fiscal a ser negociada.
Clima leve, mas recados claros
Participantes classificaram o jantar como “descontraído”: Lula brincou sobre futebol, evitou comentar a recusa do União Brasil à vaga nas Comunicações — crise sanada com a escolha de Frederico Siqueira, da Telebras — e ouviu apelos por maior interlocução com deputados. Foi a primeira vez, neste terceiro mandato, que o petista se reuniu na casa oficial da Câmara, gesto interpretado como tentativa de reduzir a distância política citada por líderes nas últimas semanas.
Ao fim, Hugo Motta reiterou que não pautará qualquer matéria que trave o avanço da isenção do IR ou da PEC da segurança. Nos corredores, a avaliação é que a anistia perdeu tração: sem o beneplácito do Planalto e com resistência crescente no centro, o requerimento de urgência pode morrer na gaveta — ao menos até que Supremo e Câmara encontrem uma saída que não soe como impunidade.
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