Em uma eleição marcada por alianças inusitadas e articulações intensas nos bastidores, Hugo Motta (Republicanos) e Davi Alcolumbre (União Brasil) saíram vitoriosos nas disputas pela presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente. O destaque do pleito ficou para a incomum união entre PL e PT, partidos que se encontraram em lados opostos nas últimas eleições presidenciais, mas que agora convergiram para apoiar os mesmos candidatos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro teve papel ativo nesse cenário, mobilizando a bancada do PL e incentivando o apoio a Hugo Motta e Alcolumbre. A estratégia, no entanto, acabou revelando fragilidades. Apesar da aparente força da articulação, a vitória dos dois candidatos escancarou uma aliança que beneficia principalmente o centrão, em detrimento das pautas prioritárias da direita.
Hugo Motta exercerá o mandato até 2027. Na disputa, ele venceu os deputados Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), que obteve 22 votos, e Marcel van Hattem (Novo-RS), que ganhou 31 votos. Outros 2 congressistas votaram em branco. As articulações para a campanha à presidência de Motta foram bem-sucedidas, conseguindo o apoio de partidos de diferentes espectros políticos. O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoia o paraibano. O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, também.
O amapaense Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), 47 anos, foi eleito neste sábado (1.fev.2025) para comandar o Senado até fevereiro de 2027. Ele recebeu 73 dos 81 votos. É a 2ª vez que ocupa o cargo – foi presidente de 2019 a 2021. Substitui o seu aliado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que permaneceu no posto mais alto do Congresso por 2 mandatos consecutivos. O congressista teve uma vitória sem sobressaltos. Sem adversários à altura, era favorito incontestável. Derrotou as minguadas candidaturas de Marcos Pontes (PL-SP) e Eduardo Girão (Novo-CE), que somaram 8 votos entre seus pares – Marcos do Val (Podemos-ES) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) discursaram na tribuna, mas decidiram desistir da disputa.
Informações revelam detalhes de uma reunião de Jair Bolsonaro com parlamentares do PL, na qual foi firmado um acordo com o centrão para apoiar Alcolumbre e Hugo Motta. O plano inclui a aprovação de um projeto de lei de autoria de Bibo Nunes, relatado por Felipe Barros, que visa enfraquecer a Lei da Ficha Limpa, reduzindo de 8 para 2 anos o período de inelegibilidade. Para viabilizar essa mudança, é fundamental que o grupo controle a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) até outubro.
Com essa estratégia, Bolsonaro poderia concorrer às eleições de 2026, ao lado de outros políticos beneficiados pelo enfraquecimento da Lei da Ficha Limpa, incluindo figuras do centrão envolvidas em escândalos de corrupção. O centrão, naturalmente, acolheu a ideia com entusiasmo. Fica claro que o objetivo não era a anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro, tampouco a redução dos poderes do STF. O foco está em um projeto personalíssimo de poder, que une PL, centrão e PT em torno de interesses próprios.
Um exemplo claro dessa contradição foi a declaração de Davi Alcolumbre, minutos após sua vitória, em entrevista à GloboNews. O novo presidente do Senado descartou de imediato a possibilidade de avanço da pauta da anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro, um tema sensível para a base bolsonarista. A afirmação expôs o despreparo de Bolsonaro em mais uma articulação que, ao final, reforça o poder do centrão e fragiliza demandas defendidas pela direita.
Essa configuração política recente indica uma dinâmica em que alianças pragmáticas se sobrepõem a agendas ideológicas, demonstrando que, no jogo do poder em Brasília, a sobrevivência política muitas vezes fala mais alto que a coerência programática.
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