Grupos de camponeses bloquearam, nesta segunda-feira, duas importantes rodovias na Bolívia, diante da possível prisão de seu líder, o ex-presidente Evo Morales, investigado pelo suposto abuso de uma menor durante seu mandato.
Desde a manhã, manifestantes interromperam o tráfego nas rotas que conectam o departamento de Cochabamba (centro) com os de Santa Cruz (leste) e Chuquisaca (sudeste), de acordo com a Administradora Boliviana de Estradas (ABC).
À frente do protesto está o Pacto de Unidade, uma coalizão de organizações alinhadas ao ex-mandatário de 64 anos, que se mobilizou “para proteger a liberdade, integridade e evitar o sequestro” de Morales, conforme declarado em um manifesto. A polícia está posicionada em trechos das rodovias bloqueadas.
Morales está sendo investigado pelos crimes de “estupro, tráfico e aliciamento de menores”. Na última quinta-feira, ele não compareceu a uma convocação da Promotoria do departamento de Tarija para prestar depoimento, o que pode levar as autoridades a ordenar sua prisão.
O caso remonta a 2015, quando Morales era presidente. Ele teria se envolvido com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016, de acordo com a denúncia em investigação pelo Ministério Público.
A defesa de Morales, que foi o primeiro indígena a governar a Bolívia entre 2006 e 2019, argumenta que o caso foi revisado e arquivado em 2020.
Em uma publicação na rede social X, Morales, que preside o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), acusou o governo de Luis Arce de arquitetar “uma rota judicial e violenta para acabar com o processo de mudança”, como são chamados os governos de seu partido. Segundo ele, setores aliados a Arce estão usando sentenças para “roubar a sigla do MAS-IPSP dos movimentos sociais” e tentam impedir sua candidatura às eleições gerais de 2025.
“Não temos medo. O abuso e a violência sempre encontraram em nós uma resposta democrática. E nossa candidatura representa a alternativa real para o povo boliviano sair da crise, como fizemos em 2005”, declarou Morales.
Em seu manifesto, os apoiadores de Morales criticaram Arce, que anteriormente era aliado do ex-presidente, mas agora está em disputa pela candidatura oficialista para as eleições de 2025.
“O governo traidor… não respondeu às nossas demandas, nem demonstrou vontade de convocar um diálogo sobre o abastecimento de combustível, a escassez de dólares, o aumento do custo de vida, o grave endividamento interno e externo”, afirmou o Pacto de Unidade.
Diante dos bloqueios, a ministra da Presidência, María Nela Prada, convocou Morales para uma reunião com Arce nesta segunda-feira à tarde, para discutir a crise econômica, embora o líder indígena tenha rejeitado várias convocações anteriores.
“Se não houver presença neste diálogo, ficará claro que o interesse não é realmente a economia”, disse a ministra à imprensa nesta segunda-feira.
Em uma aparente referência ao conflito com Morales, o presidente Arce reiterou nesta segunda-feira que “as meninas e meninos são intocáveis, eles são nosso tesouro”, durante o início do pagamento de um benefício estatal anual para estudantes.
Arce e Morales estão distantes desde o final de 2021, devido a divergências na administração do Estado, que se aprofundaram com a necessidade de renovar a direção nacional do MAS e escolher o candidato para as eleições de 2025.
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