O ex-presidente boliviano Evo Morales foi intimado a testemunhar perante um grupo de promotores por seu suposto envolvimento em um caso de tráfico e contrabando de menores, que gerou forte impacto no cenário político do país andino. O procurador-geral, Juan Lanchipa, informou que o político de 65 anos deverá comparecer para depor na próxima quinta-feira.
“Vamos interpor ações legais” para impedir que Morales declare, afirmou Carlos Romero, advogado e ex-ministro do ex-presidente. “Já em 2020, foi estabelecido que neste caso não há denunciantes nem vítimas, e ele foi arquivado.” Segundo o ex-ministro, existem outras cinco investigações que, supostamente, o “governo tem impulsionado” contra Morales.
Na semana passada, Juan Lanchipa destituiu a fiscal Sandra Gutiérrez por erros de procedimento na investigação, depois que ela ordenou a detenção de Evo Morales.
A fiscal acusou Lanchipa de pretender favorecer Evo Morales, de quem o atual procurador-geral ocupou um alto cargo durante o governo do ex-mandatário entre 2006 e 2019. Um juiz decidiu, no domingo, a favor de Gutiérrez e anulou sua destituição.
Sandra Gutiérrez investigava um caso relacionado a uma menor que, em 2016, supostamente teve uma filha com Evo Morales quando ele era presidente e ela tinha apenas 15 anos. Segundo as investigações preliminares do ministério público, os pais da adolescente teriam consentido a relação em troca de vantagens.
A denúncia não é recente, mas não havia avançado devido à suposta interferência do poder político no sistema judicial, segundo denúncias de organizações civis e opositores. Organismos como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) têm apontado em vários relatórios a falta de independência da justiça na Bolívia.
O caso intensificou a disputa entre Evo Morales e o atual presidente, Luis Arce, pelo controle do Movimento ao Socialismo (MAS) e a candidatura presidencial para as eleições de 2025.
Evo Morales acusou Luis Arce de impulsionar os processos penais contra ele com o objetivo de inabilitá-lo como candidato. Arce, por sua vez, acusou seu ex-mentor de promover protestos sociais para pressionar por um encurtamento de seu mandato.
Para a oposição, o governo estaria aproveitando o escândalo para desviar a atenção da crise econômica que o país enfrenta, marcada pelo aumento do custo de vida e um crescente mal-estar social, afirmou o deputado opositor Carlos Alarcón.
Arce também tem sido questionado por sua gestão diante dos graves incêndios florestais que destruíram aproximadamente sete milhões de hectares de pastagens e florestas primárias.
O ministério público arquivou por falta de provas outra investigação contra Evo Morales por suposto fraude eleitoral denunciado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) nas eleições de 2019, quando buscava um terceiro mandato. A denúncia provocou uma crise social que deixou um saldo de 37 mortos.
Segundo analistas, se o caso de tráfico de menores avançar, isso pode significar o fim da carreira política de Evo Morales, que iniciou sua trajetória nos anos noventa como líder dos cocaleros e chegou a ser o primeiro presidente indígena da Bolívia.
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