"Banco do crime" do PCC movimentou R$ 8 bi para financiar campanhas

O delegado Fabrício Intelizano, responsável pelo caso, afirmou que ao menos três candidatos em Mogi das Cruzes, Ubatuba e Santo André foram beneficiados
Por: Brado Jornal 02.set.2024 às 09h53
Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Polícia Civil de Mogi das Cruzes está investigando um esquema criminoso que movimentou R$ 8 bilhões por meio de um “banco do crime” e outras 19 empresas para apoiar candidaturas em diversas cidades de São Paulo.

As investigações revelam que membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil, eram responsáveis pela movimentação desses valores para financiar campanhas eleitorais.

A delegacia de Mogi das Cruzes bloqueou movimentações financeiras suspeitas entre 20 empresas, incluindo um banco semelhante a uma fintech, com sede na Grande São Paulo, criado por membros do PCC para lavar dinheiro e financiar candidaturas.

O delegado Fabrício Intelizano, responsável pelo caso, afirmou que ao menos três candidatos em Mogi das Cruzes, Ubatuba e Santo André foram beneficiados.

A operação, iniciada durante uma investigação de tráfico de drogas, resultou no bloqueio de bens e valores. Em junho de 2023, a Polícia Civil teve acesso ao celular de Fabiana Lopes Manzini, esposa de Anderson Manzini, membro antigo do PCC. Segundo a polícia, Fabiana, que assumiu os negócios ilícitos do tráfico com a prisão do marido em 2002, mantinha contato com João Gabriel de Mello Yamawaki, primo de Anderson, para receber orientações sobre os candidatos que receberiam apoio.

Yamawaki, integrante do núcleo financeiro do PCC, conhecido como “câmbio”, tinha interesse em eleger vereadores em cidades paulistas. A polícia pretende ouvir Anderson, considerado o elo central do esquema, e cruzar informações obtidas de celulares interceptados para avançar nas investigações sobre a infiltração do PCC na política.

O banco 4TBank, fundado por Yamawaki, oferece serviços para pessoas físicas e movimentou R$ 600 milhões nos últimos cinco anos apenas com seu CNPJ de Mogi das Cruzes, onde não possui autorização do Banco Central para operar. A instituição também funcionava com outros dois CNPJs em São Paulo e Palmas (TO).

Mogi das Cruzes, a 57 km da capital paulista, é considerada uma cidade-chave para o crime organizado fixar suas raízes na política municipal. Yamawaki, preso temporariamente desde 6 de agosto, mantinha uma relação com Marie Sasaki Obam, que chegou a se candidatar a vereadora em Mogi pelo União Brasil, mas desistiu após as investigações. Empresas de fachada registradas em nome da filha de Marie somam R$ 100 milhões.

Em Santo André, o PCC pretendia apoiar Thiago Rocha, suplente de vereador pelo PSD, que trabalhava na Prefeitura de Mogi das Cruzes. A polícia investiga o vínculo entre Yamawaki e Rocha, além de transações financeiras suspeitas entre o banco e o político. Em Ubatuba, mensagens apreendidas indicam que Yamawaki tentou lançar sua irmã como candidata a vereadora para infiltrar o PCC em contratos e licitações.

Em São Bernardo do Campo, uma servidora municipal, companheira de Márcio Barboza, conhecido como Beiço de Mula, a principal liderança do PCC no ABC, também está sob investigação por transações financeiras suspeitas.

A operação já identificou 32 investigados, sendo seis diretamente ligados ao banco do PCC. Segundo o delegado Intelizano, a facção tem demonstrado interesse em se infiltrar em Ubatuba, deslocando atividades criminosas para São Sebastião devido à maior presença policial no porto de Santos e à proximidade com o Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, além do fato de São Sebastião possuir um aeroporto próprio.

A operação começou após a prisão temporária de Fabiana Lopes Manzini por suspeita de tráfico de drogas em Itaquaquecetuba.

As conversas monitoradas entre Fabiana e Yamawaki, iniciadas em agosto de 2023, revelaram que o grupo já estava articulando o lançamento de candidatos, o que abriu novas possibilidades para a investigação.



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