Durante as investigações sobre a chamada Abin Paralela, a Polícia Federal apreendeu um documento que indica que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) teria preparado um dossiê para embasar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL) no caso das “rachadinhas” um mês antes de ser indicado pelo então presidente da República para comandar o órgão federal.
As informações foram publicadas nesta quarta-feira (31) pela Folha.
“O arquivo digital, apreendido recentemente com Ramagem, foi criado um mês antes de o então diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), hoje pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro, ser escolhido por Bolsonaro para comandar a PF”, informa a Folha. O documento é de março de 2020.
“O dossiê de Ramagem, intitulado ‘Bom dia Presidente’, era formado, em linhas gerais, por afirmações sem provas de que Flávio foi levado para o centro do escândalo das ‘rachadinhas’ em decorrência de acessos ilegais de seus dados fiscais por parte de funcionários da Receita Federal —foram reunidas informações de ao menos três desses servidores”, acrescentou a Folha.
Apesar da indicação de Ramagem, o ato foi sustado por determinação do ministro Alexandre de Moraes.
Ao longo do ano, Ramagem afirmou que não tentou influenciar a defesa do senador.
O assunto foi discutido durante uma reunião ocorrida no Palácio do Planalto em 2020, da qual participaram também o ex-presidente Jair Bolsonaro e o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
Ramagem chegou a declarar em sua defesa, que “a demanda se resolveu exclusivamente em instância judicial”. Em publicação em seu perfil no X, o deputado reclamou da investigação:
“Após as informações da última operação da PF, fica claro que desprezam os fins de uma investigação, apenas para levar à imprensa ilações e rasas conjecturas. O tal do sistema first mile, que outras 30 instituições também adquiriam, parece ter ficado de lado.”
O presidente e seu núcleo mais próximo de atuação virtual —chamado de “Gabinete do Ódio”— são acusados pela Polícia Federal de ter utilizado a máquina estatal de inteligência em benefício próprio, criando uma espécie de “Abin Paralela” dentro da máquina pública. A denúncia já existia desde o início do governo, (o ex-secretário Gustavo Bebbiano, próximo a Bolsonaro, indicou essa possibilidade em uma entrevista ao Roda Viva, em 2020), mas agora ganha provas robustas, como a gravação que coloca Jair Bolsonaro como alguém interessado em usar da Receita Federal e da Abin para defender as acusações do seu filho.
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