Cid diz ter sido coagido a delatar e critica Alexandre de Moraes

Os áudios foram divulgados pelo site da revista Veja, que não explica como os obteve nem se foram periciados.
Por: Brado Jornal 22.mar.2024 às 06h02
Cid diz ter sido coagido a delatar e critica Alexandre de Moraes
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A voz de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aparece numa gravação em áudio realizada na semana passada. Nela, o tenente-coronel afirma que teria sido coagido a delatar seu ex-chefe. O tenente-coronel também critica o ministro Alexandre de Moraes, do STF, dizendo que o magistrado tem poderes absolutos para mandar prender ou soltar alguém quando desejar.


Os áudios foram divulgados pelo site da revista Veja, que não explica como os obteve nem se foram periciados. A gravação teria sido feita durante uma conversa entre Cid e um interlocutor em algum momento depois de 11 de março de 2024, quando o tenente-coronel deu um depoimento para a Polícia Federal.

Não é revelado o nome do interlocutor. Os áudios, tal como apresentados pela Veja, dão a entender que Cid se sentiu pressionado a revelar como se deram reuniões e conversas no final de 2022 dentro do núcleo central do governo anterior.


Em sua delação, há relatos de oficiais militares de alta patente tendo contato com Bolsonaro para discutir a possibilidade de baixar um decreto de estado de sítio. O resultado, segundo afirma a Polícia Federal, seria impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).


Eis a seguir a transcrição dos áudios com a voz de Mauro Cid:


“Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu.


“Não vai adiantar. Não adianta. Você pode falar o que você quiser. Eu vi isso ontem. Eles não aceitavam e discutiam, que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo.


“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração está muito boa’. Tipo assim, ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você’.


“Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem.


“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação.


“Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de prisão]. Porque eu estou em vacina, eu estou em joia”.


ÁUDIOS “CLANDESTINOS”

Depois da publicação da reportagem da Veja, a defesa de Mauro Cid divulgou uma nota em que diz que o militar “em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade” da PF e da PGR (Procuradoria Geral da República). Classifica os áudios como “clandestinos”.


Leia a íntegra da nota da defesa de Mauro Cid:


“A defesa de Mauro César Barbosa Cid, em razão da matéria veiculada pela revista Veja, nesta data, vem a público afirmar que:


“Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador. Aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios.


“Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”.



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