Lula compara ataques de Israel em Gaza com ações de Hitler

Presidente afirma que os palestinos são alvo de “genocídio” só visto antes quando “Hitler resolveu matar os judeus”
Por: Brado Jornal 19.fev.2024 às 07h39
Lula compara ataques de Israel em Gaza com ações de Hitler
Ricardo Stuckert/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou neste domingo (18) a operação militar de Israel na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus realizado por Adolf Hitler na Alemanha nazista. O chefe do Executivo voltou a dizer que os palestinos estão sendo alvo de um “genocídio” e disse que o Brasil vai defender na ONU a criação de um Estado palestino.

“É importante lembrar que, em 2010, o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem de ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, declarou Lula a jornalistas em Adis Abeba, na Etiópia. 

Lula voltou a criticar os países que interromperam as doações para a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência e Trabalho para Refugiados da Palestina no Oriente Próximo, na sigla em inglês).

Em janeiro, mais de 10 nações, entre elas os Estados Unidos e a França, interromperam o envio de dinheiro depois que funcionários da organização foram acusados por Israel de ajudar o Hamas a atacar o país em 7 de outubro de 2023. 

O presidente questionou se a morte de tantos palestinos é “pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos”. Lula disse: “Ou os dirigentes políticos mudam o seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política”. 

O presidente disse questionar “o tamanho do coração solidário” e da “consciência política dessa gente” que não vê “que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”. 

Ao criticar o Conselho de Segurança da ONU, Lula disse que o mundo atravessa um momento de “falta de instância de deliberação” e afirmou que o Brasil segue “solidário com o povo palestino”.


Eis a íntegra:

“É muito engraçado. Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio.

“De que não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre soldados altamente preparados e mulheres e crianças. Olha, se houve algum erro nessa instituição que apura dinheiro, que se apure quem errou. Mas não suspenda a ajuda humanitária a um povo que está há quantas décadas tentando construir o seu Estado.

“O Brasil não apenas afirmou que vai dar contribuição –eu não posso dizer quanto porque não é o presidente quem define. É preciso ver quem é que cuida disso no governo para ver quanto é que vai dar. O Brasil disse que vai defender na ONU [Organização das Nações Unidas] a definição de o Estado palestino ser reconhecido definitivamente como Estado pleno e soberano.

“É importante lembrar que em 2010 o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.

“Então não é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, sabe, você deixar de ter ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30.000 pessoas que já morreram, 70.000 que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber porquê estavam morrendo?

“Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos do planeta? Então sinceramente, ou os dirigentes políticos mudam seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política.

“O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação. Nós não temos governança. Eu digo todo dia: a invasão do Iraque [pelos EUA em 2003] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Líbia [pelas forças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2011] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão da Ucrânia [pela Rússia em 2022] não passou pelo Conselho de Segurança da ONU e a chacina de Gaza não passou pelo Conselho de Segurança da ONU –aliás, as decisões do Conselho não foram cumpridas. E tampouco foi cumprida a decisão penal tomada agora no processo da África do Sul.

“O que é que estamos esperando para humanizar o ser humano? É isso que está faltando no mundo. Então o Brasil continua solidário ao povo palestino. O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza.”



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