O senador Sergio Moro (União-PR) e o ministro da Justiça, Flávio Dino, se cumprimentaram com um abraço nesta quarta-feira, 13. Isso não teria virado notícia se os dois não tivessem passado os últimos anos trocando farpas em público.
Indicado por Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF), Dino é um dos maiores críticos da Operação Lava Jato. Em audiência no Senado em março, os dois se enfrentaram e o ministro da Justiça disse o seguinte:
“Eu sou uma pessoa honesta, ficha limpa. Eu fui juiz. Nunca fiz conluio com o Ministério Público. Nunca tive uma sentença anulada. E, por ter sido um juiz honesto, governador honesto, que eu não admito que alguém venha dizer que eu deva ser preso. Isso é desrespeito. Quem tem honra age assim. Repilo veementemente qualquer ofensa à minha honra.”
Durante sua peregrinação nesta semana pelo Senado, em busca de votos, Dino chegou a dizer que não precisaria falar com o ex-juiz para saber seu voto.
Já Moro previu na manhã desta quarta-feira que a sabatina de Dino seria longa e dura, “porque o ministro da Justiça, o indicado, deu uma serie de declarações polêmicas durante o ano, então isso deve reverberar na sabatina”.
“Eu conheço, na verdade, o ministro Flávio Dino há muito tempo, né? Porque ele foi também juiz federal, eu fui juiz na mesma época, o que não significa que concordemos em vários assuntos”, comentou Moro em outro momento nesta quarta.
Durante suas perguntas a Dino, Moro comentou o abraço:
“Eu fui até aí cumprimentá-lo, acho que é um dever de cordialidade e civilidade. Vossa Excelência me perguntou algo, eu achei graça e dei uma risada. Tiraram várias fotos, já está viralizando, como se isso representasse minha posição. Eu sempre deixei muito claro, eu tenho diferenças com o atual governo, e Vossa Excelência faz parte do atual governo. Tenho diferenças profundas, e tenho sido um crítico, inclusive da gestão de Vossa Excelência, mas não perderei a civilidade e acho que este país precisa disso, para que nós possamos diminuir a polarização.”
O que os senadores perguntaram a Dino?
Questionado pelo senador Magno Malta (PL-ES) sobre seu entendimento em relação ao aborto — e ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema —, o ministro da Justiça deu uma resposta evasiva. Citando o jurista italiano Norberto Bobbio, ele disse que não é papel da Suprema Corte se intrometer no assunto.
O ministro da Justiça foi questionado também sobre as gravações das câmeras de segurança do Ministério da Justiça em 8 de janeiro, e disse que entregou todas as imagens relevantes e que não tinham sido apagadas.
Dino ainda rebateu as críticas por não comparecer ao Congresso, ignorando convocações de parlamentares. Disse ter recebido “mais de 120 convites e convocações” e que atendeu a oito delas. Em suas contas, as visitas totalizaram 29 horas e 30 minutos, uma “prova de respeito às causas parlamentares”, segundo ele.
O indicado ao STF falou ainda sobre a visita ao Complexo da Maré. “Dizem que eu subi o morro. Não, não havia um morro”, disse, acrescentando que andou apenas 15 metros para dentro da comunidade e destacando que sua visita foi comunicada à Polícia Rodoviária Federal, à Polícia Federal, às polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro e ao Corpo de Bombeiros.
Durante a sabatina, Dino disse ainda que não tem simpatia por decisões monocráticas que derrubem leis aprovadas pelo Congresso Nacional, motivo de uma disputa intensa do Congresso Nacional com o STF.
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