Um relatório de inquérito da Polícia Federal (PF) aponta prática de “jogo duplo” do senador Marcos do Val (Podemos-ES) em torno do episódio sobre a suposta articulação de uma tentativa de golpe de Estado. A reportagem teve acesso nesta quarta-feira, 12, ao documento, fruto de investigação sobre a possível omissão de autoridades públicas nos atos de 8 de Janeiro. Entre os trechos analisados, a PF destaca conversa entre Do Val e do ex-deputado Daniel Silveira iniciada em 6 de dezembro de 2022, quando o ex-deputado afirma que precisa falar urgente com o senador sobre algo “realmente importante” e de “oportunidade única”. A conversa marca o início de uma troca de mensagens que levaria a suposta reunião realizada na presença do então presidente Jair Bolsonaro (PL), denunciada por Do Val em janeiro deste ano como parte de um suposto plano arquitetado por Silveira para um golpe. Para a Polícia Federal, a análise do celular do senador confirma que Marcos e Daniel estiveram no Palácio da Alvorada em 8 de dezembro, e nesse local um carro “os pegaria para conduzi-los à reunião com Bolsonaro”.
Mensagens também de 8 de dezembro mostram uma conversa de Do Val com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No contato, o parlamentar relata falas com Silveira, chamando os pedidos recebidos de e uma suposta ligação recebida de Bolsonaro: “[Presidente] Pediu para falar comigo e me perguntou se poderia encontrar com ele hoje no final da tarde. O objetivo é mesmo derrubar o presidente Lula”, diz o senador, também confirmando a reunião. Por sua vez, no mesmo dia, ele compartilha informações com seus assessores e fala da “missão” recebida por Daniel Silveira, dizendo que “entrará para a história do Brasil”. Em conversa com amigas, ele também narra a reunião entre ele, Silveira e Bolsonaro, mas afirma que o objetivo seria gravar o ministro Alexandre de Moraes, reforçando a ideia de jogo duplo. Em trecho, Marcos do Val também afirma estar “com a bomba da (sic) mão para destruir Bolsonaro e outra para destruir o Lula”. Após a análise das mensagens, a PF conclui que havia uma “atuação de caráter absolutamente ambíguo de Marcos do Val, que parecia valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro presta depoimento nesta quarta na sede da Polícia Federal, em Brasília sobre o caso. A determinação de comparecimento do político foi feita pelo ministro Alexandre de Moraes, em junho. A PF havia solicitado a presença de Bolsonaro citando que dados extraídos do celular de Do Val em fevereiro apresentam “elementos indicativos de suposta participação do referido parlamentar em associação criminosa junto de Daniel Silveira para o suposto cometimento de atos antidemocráticos”. Contudo, na decisão, Moraes já incluiu a oitiva o ex-presidente. “Proceder à imediata realização da oitiva do representado, observadas suas garantias constitucionais e legais. Identificar e proceder à oitiva de outros agentes com os quais o investigado tenha interagido mediante incitação e/ou cooptação para a prática de atos tendentes e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, bem como proceder à oitiva de Daniel Lucio Silveira e de Jair Messias Bolsonaro quanto aos fatos expostos”.
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