O tenente-coronel Mauro Cid foi vestido com a farda verde oliva do Exército brasileiro para prestar depoimento nesta terça-feira, 11, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro e optou pelo silêncio como estratégia de defesa. O militar foi questionado desde o primeiro momento sobre a sua relações com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no período em que trabalhou para ele como ajudante de ordens da Presidência. Cid está preso há 68 dias no Batalhão da Polícia do Exército em Brasília.
“Com todo respeito à Vossa Excelência, mas, dentro do escopo das investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal, sigo as orientações da minha defesa técnica e, com base em Habeas Corpus, vou me manter no direito de ficar em silêncio”, disse Cid repetidas vezes a cada pergunta feita pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA).
O ex-ajudante de ordens afirmou que vai se valer durante toda a oitiva do Habeas Corpus obtido no STF para se manter em silêncio quando for confrontado por perguntas que possam incriminá-lo.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é investigado em oito inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Polícia Federal (PF). Uma das investigações apura a participação do militar nos atos golpistas do início deste ano.
Em seu discurso na abertura da sessão, Cid se antecipou às perguntas dos senadores e deputados ao se defender das acusações que enfrenta na Justiça por ter recebido pedidos de oficiais militares para fazer chegar a Bolsonaro apelos pela aplicação de um golpe de Estado. Este foi o único momento em que Cid apresentou explicações sobre os seus atos.
“Não estava na minha esfera de atribuições analisar propostas e decretos trazidos por ministros, autoridades e apoiadores. Não participava do processo de decisão pública”, afirmou. “Na prática, a função de ajudante de ordens consistia nas funções de secretariado executivo do presidente”, argumentou.
Cid ainda usou o discurso para se descolar de Bolsonaro e afastar do ex-presidente a responsabilidade por seus atos. O militar afirmou que o seu vinculo empregatício era com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e que a sua nomeação ao cargo de ajudante de ordens não passou por “indicação política” porque a função é tradicionalmente exercida por pessoas indicadas pelas Forças Armadas, conforme definido por decreto presidencial. “O ajudante de ordens é a única função pessoal do presidente que não é de sua escolha”, disse Cid.
“Em 2018 havia sido selecionado para participar de um curso de Estado Maior no Exército americano, entretanto, fui redesignado pelo então comandante do Exército para assumir a função de chefe da ajudância de ordem da presidência da República. É importante destacar que essa função é exclusivamente de natureza militar”, argumentou Cid.
Diante do silêncio, parlamentares governistas ameaçaram Cid com requerimentos. O deputado Duarte (PSB-MA) pediu a quebra de sigilo telefônico e telemático do pai, do irmão e da esposa do ex-ajudante de ordens para apurar se os familiares colaboraram com a manutenção dos acampamentos golpistas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. Já a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou requerimentos para convocar Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na condição de investigado por acreditar que Cid cometeu os atos ilícitos a mando do casal.
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