Bolsonaro explora corrupção do governo petista, e Lula ataca gestão do presidente na pandemia

No primeiro debate do 2º turno, candidatos chamam um ao outro de mentirosos; Bolsonaro assume o compromisso de não mudar a composição do STF e ex-presidente não responde quem será seu ministro da Economia
Por: Brado Jornal 17.out.2022 às 06h41
Bolsonaro explora corrupção do governo petista, e Lula ataca gestão do presidente na pandemia
SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentaram neste domingo, 16, no debate promovido pelo pool de veículos formado pelo Grupo Bandeirantes, a Folha de S.Paulo, o UOL e a TV Cultura. Na primeira vez em que ficaram frente a frente em um embate direto, sem a presença de coadjuvantes, os adversários protagonizaram uma série de trocas de farpas, discussões e acusações mútuas de corrupção. O atual chefe do Executivo, por exemplo, iniciou sua primeira fala acusando parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) de terem votado contra a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 400 mensais – o que foi desmentido pelo petista. “Só de auxílio emergencial gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, especialmente no interior do Nordeste, começando a receber R$ 42. Se podia dar algo melhor, por que não deu lá atrás”, questionou o presidente, em claro aceno ao eleitorado nordestino, que majoritariamente votou em Lula no primeiro turno. Em outros pontos, o presidente também falou sobre a visita do petista ao Complexo do Alemão, afirmando que “não tinha um policial acompanhando, apenas traficantes”, e questionou Lula sobre Petrolão, falando em “maior escândalo da história da humidade”. “Lula, você tem muito a falar sobre corrupção. A responsabilidade pela corrupção no Brasil foi sua”, disse Bolsonaro. 

Por sua vez, o ex-presidente Lula iniciou suas falas questionando se o presidente da República não sente o “peso das 400  mil mortes” pela Covid-19 que, segundo ele, poderiam ser evitadas, caso a compra das vacinas tivesse  sido mais rápida. “Atrasou a vacina, teve processo de corrupção denunciado pela CPI. A sua negligência fez que 380 mil pessoas morressem. O senhor não cuidou [da população]. Debochou, riu, disse que quem tomasse vacina virava jacaré, gozou das pessoas morrendo sem oxigênio”, disse o candidato do PT, que voltou a criticar ações de Bolsonaro na pandemia: “Você poderia ter comprado vacinas antes. Tratava a pandemia como uma gripezinha, colocou sigilo no seu cartão de vacina”, concluiu. Outro momento, Luiz Inácio chamou Jair Bolsonaro de “rei das fake news” e questionou o presidente a respeito de quantas universidades e escolas técnicas a atual gestão construiu, pergunta não respondida pelo presidente. ” Bolsonaro não quer dizer que vergonhosamente ele só fez uma universidade no Tocantins, que a Dilma já tinha aprovado.” Lula também se colocou como responsável pela maior política de infraestrutura, criticou o atual governo pelo desmatamento na Amazônia e falou sobre escândalos de corrupção do atual governo. “Povo não quer alguém que compre 51 imóveis com dinheiro vivo, que gaste R$36 milhões no cartão [corporativo]. O povo não quer rachadinhas, o [Fabrício] Queiroz ainda está escondido. Votar a cena do crime? Lula vai voltar a cuidar do povo brasileiro, porque o povo precisa e você sabe que eu sei cuidar do povo”, finalizou.

Entre os momentos de confronto direto, Lula também rebateu Bolsonaro sobre a paternidade da transposição do Rio São Francisco, afirmando que, na realidade, seu governo foi responsável por 88% das obras  e a atual gestão, apenas por 3,5%. ” Você acha que alguém acredita que foi você que levou água? Não tem um projeto seu. Quando era deputado nunca fez um discurso contra o governo Lula. Ele não fez porque no fundo sabe que fui o presidente que mais cuidei do país”, disse o petista. Outro momento acalorado foi quando o atual chefe do Executivo questionou o motivo do petista não ter transferido Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, para um presídio federal, quando era presidente. “Teve que eu chegar junto com Sergio Moro para tirar Marcola e mandasse para um presídio federal. Por que não transferiu? Era simpatia, amizade?”, questionou Jair Bolsonaro, citando a morte de 59 policiais no período. Em resposta, Luiz Inácio disse que o adversário sabe que o governo do PT criou cinco prisões de segurança máxima. “Quantos você fez? Nenhum”. Líder das pesquisas de intenções de votos no segundo turno, o candidato do PT foi ainda questionado quem será o seu ministro da Economia, se eleito, mas não respondeu. 

Ao longo do debate, ambos candidatos também responderam perguntas de jornalistas a cerca de temas diversos. A primeira pergunta foi a respeito da criação de novas vagas ao Supremo Tribunal Federal e se os adversários se comprometeram a não aumentar o número de ministros, o que ambos confirmaram. Bolsonaro também falou sobre a política de preços dos combustíveis, defendendo a redução do ICMS, citando deflação pelo terceiro mês consecutivo e falou em “Brasil no caminho certo com Paulo Guedes”, ministro da Economia. Sobre a possível privatização da Petrobras e valores dos combustíveis, Lula respondeu que o preço não deve ser dolarizado e se posicionou contra a venda da estatal. “Privatização não é solução para nada”, disse o petista. Em outra questão da imprensa, a respeito de fake news de ambas campanhas, o candidato do PT defendeu que as propagandas eleitorais sejam reguladas e falou em combater a divulgação de notícias falsas. Já Bolsonaro usou sua resposta para comentar sobre as acusações de pedofilia que repercutiram nas redes sociais durante o final de semana, após o presidente falar em um podcast que “pintou um clima com meninas de 14, 15 anos”. “Você não tem o que falar do seu passado, que não tem nada que presta. Só quer denegrir os outros”, disse o presidente.

Antes mesmo do debate começar, Bolsonaro já havia comentado sobre o suposto caso de pedofilia. Em conversa com a imprensa, o presidente falou em “acusação infame e sórdida” e culpou Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, por ter “potencializado” o assunto – que ele nega ser verídico. “Tentaram me atingir naquilo que é mais sagrado a mim: a defesa da família e das crianças”, afirmou o presidente. Segundo Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, assinou despacho pela retirada de todos conteúdos que façam menção à acusação, afirmando que a fala foi “sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual”. 



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