A delação premiada de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, executado no desembarque do Aeroporto Internacional de Paulo, na sexta-feira (8), cita como supostos corruptos policiais civis de dois departamentos importantes da Polícia Civil e de dois distritos policiais da Zona Leste da capital paulista.
De acordo com o documento, obtido na íntegra pela reportagem, os departamentos mencionados pelo delator da facção criminosa PCC são o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), dois dos mais importantes da corporação.
Já as delegacias citadas no documento são o 24º DP (Ermelino Matarazzo) e 30º DP (Tatuapé), ambos na Zona Leste de São Paulo.
Em trecho da delação, os promotores mencionam: "Extrai-se (...) das declarações do colaborador (...) a identificação de possíveis crimes contra a administração pública praticados dos policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e 24º Distrito Policial da Capital".
Ainda segundo os promotores, tais condutas, que são objeto de investigação, configuram, em tese, os seguintes crimes: concussão, que é a extorsão cometida por agentes públicos, corrupção passiva, associação criminosa, dentre outros.
Na delação, Vinicius Gritzbach deixa claro que o envolvimento do 30º DP e do 24º DP no caso se deu porque uma equipe corrupta de um distrito foi transferida para outra delegacia, levando consigo todos os esquemas de favorecimento ilícito de criminosos.
Em coletiva realizada nesta segunda-feira (11) na Secretaria da Segurança Pública, no Centro da capital, o secretário Guilherme Derrite (PL), disse que os policiais civis citados na delação serão afastados. Ele não mencionou quem são e/ou quantos são esses agentes investigados.
O secretário afirmou ainda que a pasta da Segurança “não tem compromisso com o desvio de conduta" e que não teme depurar seus quadros.
Na coletiva de imprensa desta segunda-feira (11), Derrite afirmou, ainda, que Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha sido ouvido na Corregedoria da Polícia Civil sobre a denúncia de que policiais civis estavam cometendo extorsão no dia 31 de outubro.
O depoimento foi dado aos corregedores da polícia oito dias antes de ele ser executado no aeroporto.
"A Corregedoria da Polícia Civil, no dia 31 de outubro, ouviu na sede de Corregedoria o indivíduo Vinicius. Ele foi ouvido por conta de termos recebidos extratos dessa delação no Ministério Público, nós ainda não tivemos acesso a delação, mas extratos dela - onde ele falava nome de policiais civis que teriam, de alguma maneira, participado extorsão contra ele. O primeiro a ser ouvido foi o próprio Vinicius", afirmou Derrite.
"O inquérito foi instaurado na Corregedoria para que ele pudesse apontar os nomes e quais desvios de conduta, esses policiais civis teriam cometido", completou.
Em março, o empresário fechou um acordo de delação premiada com o MP com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do PCC e crimes cometidos por policiais. Gritzbach acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não o implicar no assassinato do Cara Preta.
Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
A SSP criou uma força-tarefa para investigar a execução, que será coordenada pelo secretário-executivo da SSP, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.
Ainda segundo Derrite, dentro do veículo utilizado pelos suspeitos, foi encontrado um galão de gasolina. A investigação apura que eles iriam incendiar o carro.
O material genético encontrado no Gol também já foi coletado e passará por análise. A polícia também busca por imagens de câmeras de segurança para refazer o trajeto do carro e, verificar se os suspeitos usaram um outro veículo para fugir. Segundo testemunhas, a informação é que eles fugiram a pé.
Seguranças indicados por tenente
Os policiais militares, que faziam a escolta pessoal do delator do PCC, foram indicados para fazer o bico ilegal por meio de um tenente da PM.
A prática de bicos, como a segurança particular, é proibida pelo Regulamento Disciplinar da PM e é classificada como uma transgressão grave.
As informações foram registradas nos depoimentos de três policiais à Corregedoria da PM e ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), responsáveis pelas investigações.
No sábado (9), os PMs Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima foram afastados de suas funções até o final das investigações. Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é que os seguranças de Gritzbach teriam falhado de forma proposital e indicado o momento em que o empresário estava desembarcando do aeroporto.
Em depoimento, Adolfo contou que foi convidado em 2023 pelo tenente Garcia, do 23° Batalhão Metropolitano, a prestar serviço de segurança particular para a família do empresário.
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