Desde o final de semana, os chineses têm tomados às ruas de várias cidades do país para protestarem com a política de covid zero que está presente há quase três anos. As medidas extremamente rigorosas foram aplicadas pelo presidente Xi Jinping como forma de proteger o país, entretanto, a China, hoje, é a última grande economia mundial que segue aplicando uma dura estratégia contra o coronavírus. O resultado, que já surtiu efeito no país e vai fazer com ele feche o ano com um crescimento do PIB abaixo da meta de 5,5%, a mais baixa já registrada em uma década, ocasionou revolta na população, que nos últimos dias começaram a pedir a renúncia de Xi Jinping. Protestos em larga escala são raros na China, já que expressões públicas de dissidência são rotineiramente sufocadas. “Xi Jinping, renuncie, renuncie!”, gritavam os manifestantes em uma rara demonstração de rejeição ao presidente chinês.
Os protestos, que estão sendo realizado há pelo menos oito meses, ganharam maior relevância nesta semana, após dez pessoas morrerem em um incêndio na quinta-feira, 24. O incidente gerou indignação nas redes sociais, uma vez que os confinamentos prejudicaram o resgate das vítimas. “Isso não é uma vida normal, estamos fartos. Nossas vidas não eram assim antes”, exclamou um palestrante na Universidade Tsinghua. Após a tragédia em Urumqi, cidade de 4 milhões de habitantes, as autoridades flexibilizaram as restrições na região: a partir de terça-feira será possível utilizar ônibus para fazer compras e os estabelecimentos comerciais em áreas de “baixo risco” poderão retomar parcialmente as atividades. De acordo com um estudante, os protestos começaram na noite de sábado e entre 100 e 200 pessoas se reuniram. “Ouvi gritarem: ‘não aos testes de covid, sim à liberdade'”, gritavam. As manifestações mostram o cansaço da população com a estratégia do governo de tolerância zero com a covid. Os protestos acontecem em um momento em que a China enfrenta o pior cenário de Covid-19. Só no domingo, o país registou 39.506 infeções locais de covid-19, um número recorde para este país de 1,4 bilhão de habitantes.
Diante do aumento dos protestos, as autoridades chinesas reforçaram nesta segunda-feira, 28, a presença policial em Pequim para desencorajar novas manifestações. Os manifestantes estão exibindo folhas de papel em branco para protestar contra a censura, cantando o hino nacional e gritando palavras de ordem contra as restrições da covid-19 que os impedem de circular livremente há quase três anos. “Estava acompanhando pelas redes sociais e quis vir ver como estavam as coisas. Finalmente há uma mobilização contra essa política de saúde”, comentou uma mulher de 40 anos, presente na região do canal Liangma. “Os jovens estão preocupados. Os preços dos imóveis estão praticamente inacessíveis e não sabem se vão conseguir emprego. Estas restrições anticovid aumentam as frustrações”, explicou a mulher, que preferiu não se identificar. “Com essa política de saúde, viramos motivo de chacota no mundo, não acha?”, acrescentou.
“A manifestação foi algo bom”, declarou à agência AFP uma mulher de 20 anos, que pediu anonimato. “Enviou uma mensagem de que as pessoas estão cansadas das restrições excessivas. Acredito que o governo entendeu e vai aliviar suas políticas para seguir adiante”, acrescentou, antes de opinar que “a censura não conseguiu acompanhar o ritmo” dos protestos. Porém, qualquer informação sobre as manifestações parece ter sido eliminada de todas as redes sociais chinesas. Na plataforma Weibo, uma espécie de Twitter chinês, as buscas por “Rio Liangma” e “rua Urumqi” não apresentavam nenhum resultado relacionado com a mobilização. “As pessoas chegaram a um ponto de ebulição porque não há uma direção clara para acabar com a política de covid zero”, declarou à AFP Alfred Wu Muluan, especialista em política chinesa da Universidade Nacional de Singapura. “O partido subestimou a irritação popular”, concluiu.
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