Em um discurso durante um evento público na quarta-feira 28, o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, afirmou que a Igreja Católica é uma “ditadura perfeita, uma tirania perfeita”. “Quem elege os sacerdotes? Quem elege os cardeais? Quem elege o papa? É uma ditadura perfeita, uma tirania perfeita!” afirmou Ortega, cujo governo tem feito uma perseguição sistemática a cristãos.
Já houve prisões, fechamento de canais de televisão católicos, a expulsão de missionários e a perseguição a padres e bispos. Em março, a Nicarágua expulsou o embaixador do Vaticano.
O discurso de Ortega ocorre duas semanas depois de o papa Francisco ter afirmado que existe diálogo entre a igreja e o governo nicaraguense. Em 15 de setembro, o pontífice, ao voltar do Cazaquistão, foi questionado por jornalistas sobre a perseguição aos cristão. “Há um diálogo. Conversamos com o governo. Há um diálogo. Isso não significa que aprovamos tudo o que o governo faz. Ou que desaprovamos tudo”, declarou.
Ortega não pareceu comovido com a possibilidade de diálogo e, no discurso, fez mais críticas ao catolicismo. “Diria a Sua Santidade o Papa, muito respeitosamente, às autoridades católicas — sou católico — como cristão, não me sinto representado”, disse, fazendo menção à “terrível história” da Igreja e citando genericamente a inquisição e o abuso contra povos indígenas no Canadá. “Com que autoridade falam sobre democracia?”, questionou, ao recomendar que todos os padres e cardeais, além do papa, sejam eleitos pelos fiéis.
Em 22 de agosto, o papa também tinha falado sobre a situação, sempre num tom conciliador e pedindo diálogo. Por isso mesmo, o pontífice tem sido criticado. Os perseguidos esperam uma postura mais contundente em relação a Daniel Ortega.
As perseguições na Nicarágua se intensificaram a partir de 2018. Desde então, a Igreja Católica sofreu mais de 190 ataques no país, segundo relatório do Observatório Anticorrupção e Transparência encaminhado à Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês).
No final de junho, dois canais de televisão católicos, Merced e Canal San José, foram retirados do ar. Outros já tinham sido bloqueados em maio. No fim de agosto, o regime prendeu o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, e outras sete pessoas — quatro sacerdotes, dois seminaristas e um funcionário da diocese.
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