A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima que mais de dois milhões de refugiados impedidos de voltar para casa ou permanecer no seu país de acolhimento por insegurança ou falta de espaço deverão ser realocados em 2023. A informação foi revelada nesta terça-feira, 21. Em comunicado, a porta-voz Shabia Mantoo justificou que as causas da alta são “as consequências humanitárias da pandemia e o surgimento de novas situações de deslocamento ao longo do ano”. O número representa um aumento de 36% em relação a 2022, quando 1,47 milhão de pessoas estiveram na mesma situação, indicou o órgão.
De acordo com o levantamento, cerca de 777.800 dos refugiados são da Síria, sendo o país com mais transferências pelo sétimo ano consecutivo. O Afeganistão, que aumentou a perseguição aos refugiados depois da tomada do poder pelo Talibã, ocupa o segundo lugar na lista dos que estão em busca de outro país de acolhimento, com cerca de 274.000, seguido da República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Mianmar. O conceito de “realocação” consiste em transferir os refugiados do país de um asilo para um outro Estado que os acolha e ofereça residência permanente. Em 2020, o fechamento das fronteiras e as restrições de viagens devido à pandemia implicou em uma suspensão temporária das transferências para os países de acolhimento, o que explica o aumento nos anos seguintes. Os processos foram reduzidos para o mínimo e só foram feitas 22.800 saídas.
De acordo com o relatório “Tendências Globais”, feito anualmente pela ACNUR, ao final de 2021, o número total de pessoas deslocadas por guerras, violência, perseguições e abusos de direitos humanos chegou a 89,3 milhões. O valor aponta para um crescimento de 8% em relação ao ano anterior e bem mais que o dobro verificado há 10 anos. Desde então, a invasão da Ucrânia pela Rússia – que causou a mais veloz e uma das maiores crises de deslocamento forçado de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial – e outras emergências humanitárias em regiões da África e no Afeganistão, elevaram este número para a marca dramática de 100 milhões. Ao todo, 23 países, com uma população combinada de 850 milhões de pessoas, enfrentaram conflitos de intensidade média ou alta, de acordo com o Banco Mundial. Juntamente com os confrontos bélicos, a escassez de comida, a inflação e a crise climática colaboram para o aumento dos deslocamentos.
Na contramão deste dado, o número de retornos entre pessoas refugiadas e deslocadas internamente cresceu em 2021, retornando aos níveis anteriores à pandemia de Covid-19, com a repatriação voluntária subindo 71% – embora o volume necessário de repatriações ainda esteja longe do ideal para resolver o problema. Apesar do número de pessoas apátridas ter crescido discretamente em 2021, cerca de 81.200 delas adquiriam nacionalidade ou a confirmaram, configurando a maior redução desde que o ACNUR iniciou a campanha #IBelong (#EuPertenço) em 2014.
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