A israelense Aviva Siegel ficou 51 dias nas mãos do Hamas na Faixa de Gaza. Em entrevista ao “Fantástico”, veiculada no domingo (10), ela disse ter passado fome e sido torturada e testemunhado o sofrimento de uma refém vítima de abuso sexual.
Ela foi sequestrada junto com o marido, Keith, e outros 16 moradores do kibutz Kfar Aza, localizado a cerca de 3 kms da fronteira com a Faixa de Gaza. A comunidade foi atacada por integrantes do Hamas em 7 de outubro.
“Foram 51 dias no inferno. Ninguém esquece uma coisa assim. Fui torturada, passei fome, tive sede. Não tinha oxigênio”, disse Aviva ao programa da TV Globo. “Quando pegaram o Keith [marido da israelense], quebraram as costelas dele com um empurrão. Deram tiros em volta da gente, e uma das balas acertou a mão dele”, continuou.
“Não nos davam comida suficiente, então perdi 10 quilos. Davam um pouco de pão, às vezes tão seco que você mal conseguia mastigar. Às vezes, era só um pouco de arroz, mas nunca era o suficiente. E, às vezes, não davam nem água o suficiente”, completou.
Segundo ela, integrantes do Hamas “costumavam comer na frente” dos reféns. “Mastigavam, vinham de outro recinto mastigando, enquanto nos deixavam 24 horas sem comer”, disse.
Em 4 de março, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um relatório que cita indícios de violência sexual cometidos pelo Hamas contra mulheres israelenses. Eis a íntegra (PDF – 381 kB, em inglês).
Segundo o documento, a equipe encontrou razões para crer que houve violência sexual, como estupro e estupro coletivo, em pelo menos 3 locais no sul de Israel durante o ataque de 7 de outubro. O relatório também expõe evidências de agressões sexuais cometidas contra reféns na Faixa de Gaza.
Aviva relatou ter presenciado abusos sexuais e físicos com outras reféns. “Uma das moças foi ao banheiro e, quando voltou, eu pude ver no rosto dela que alguma coisa tinha acontecido”, disse.
“Levantei-me e dei um abraço nela. E o terrorista veio e começou a gritar porque a gente sabia que eles não deixavam a gente se abraçar. Depois de umas duas horas, com todo mundo quieto, por que a gente sabia que uma coisa ruim tinha acontecido com ela, ela olhou pra mim e disse: ele tocou em mim”, declarou. “Não sei se ela me contou tudo o que aconteceu, mas o que ela me contou, como ele tocou nela, isso foi o suficiente pra eu sentir muita pena. A gente ficou chorando por uns 2 dias, foi um momento muito difícil”, completou.
Aviva falou também sobre agressões físicas. “Uma garota me disse pra eu tapar os ouvidos porque eu não ia querer ouvir o que estavam fazendo. Bateram nela, bateram, bateram. Quando ela voltou, estava toda vermelha. Ficou com a marca das algemas por pelo menos 5 dias”, disse.
A ex-refém afirmou que ela e o marido foram transferidos mais de 10 vezes. “Em uma das vezes, nos levaram pra debaixo da terra e ficamos só nós 2 ali, porque eles sentiram que não ia ter oxigênio suficiente pra eles. A gente achou que fosse morrer”, declarou.
“Eles nos vestiam pra ir de um lugar pro outro, pra gente ter um visual árabe. Eu ficava toda coberta, com só um pedaço do rosto de fora, pra andar nas ruas de Gaza”, acrescentou. “Eles escondiam as armas em uma bolsa, iam bem vestidos e diziam que, se a gente abrisse a boca, nos matariam”, disse.
Aviva foi libertada em novembro de 2023, durante acordo de cessar-fogo. Seu marido, no entanto, continua nas mãos do Hamas. “Keith tem 64 anos e tem problemas de saúde, tem pressão alta e não está tomando o remédio certo. Tenho certeza disso, porque eu não tomei. E ele foi tratado como lixo, como um nada”, declarou a israelense.
Em fevereiro, oficiais de inteligência israelenses disseram que pelo menos 31 dos 136 reféns restantes na Faixa de Gaza morreram desde o início da guerra.
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