O governo de Israel criticou nesta quinta-feira (19) uma reportagem da BBC News sobre o bombardeio do hospital de Al-Ahli, na Faixa de Gaza. O perfil oficial do governo israelense afirmou em sua conta no X (ex-Twitter) que o conteúdo noticioso do veículo britânico era um “libelo de sangue moderno”.
Do inglês “blood libel”, o termo se refere as alegações históricas de que judeus assassinavam crianças cristãs ou não judias para usar o sangue das vítimas em rituais religiosos. As acusações eram comuns do antissemitismo na Idade Média e foram usadas pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a Alemanha tinha uma política de exterminar judeus em massa (o Holocausto).
“Ei, @BBCWorld, a partir desta manhã seu libelo de sangue moderno sobre o ataque ao hospital continua ativa. Estamos de olho em você e agora todo mundo também”, disse o governo israelense, compartilhando uma reportagem da edição impressa do Daily Mail que reportava a crítica de Israel à BBC.
A reportagem da BBC se trata de uma transmissão no canal a cabo, realizada na terça-feira (17) depois da explosão. Na ocasião, um repórter correspondente do veículo sugeriu que Israel era responsável pelo episódio, embora tenha afirmado que o governo israelense estava investigando a situação.
“Os militares israelenses foram contatados para comentar o assunto e disseram que estão investigando. Mas, dado o tamanho da explosão, é difícil ver o que mais poderia ter causado isso além de um ataque aéreo israelense ou vários ataques aéreos”, afirmou o repórter.
Na sua página de correções, a BBC afirmou nesta quinta-feira (19) que o repórter “ressaltou” que as fotos sobre o bombardeio não foram verificadas e não informou “em nenhum momento” que o caso se tratava de um ataque de Israel. O veículo, no entanto, disse que foi um “erro especular”.
“Isso não representa a totalidade da produção da BBC e qualquer pessoa que assista, ouça ou leia a nossa cobertura pode observar que mostramos as reivindicações opostas de ambos os lados sobre a explosão, mostrando claramente quem as diz e o que nós sabemos, ou não”, disse o veículo.
Guerra de versões
Os envolvidos na guerra apresentaram narrativas diferentes sobre o bombardeio do hospital de Al-Ahli, realizado na terça-feira (17). Depois da explosão, o Hamas acusou Israel e declarou, em nota, que a explosão era um crime de “genocídio” e revelava “o lado feio do inimigo e seu governo fascista e terrorista”.
Na quarta-feira (18), a agência de notícias estatal da Palestina, Wafa, disse que “depois de bombardear um hospital […] Israel cometeu outro massacre horrível ao bombardear uma mesquita em Nuseirat”.
Já Israel afirmou, com fotos, vídeos e áudio, que a explosão que atingiu o hospital foi causada por um foguete do grupo Jihad Islâmica. Disse que, no início da noite de terça-feira (17), cerca de 10 foguetes haviam sido disparados por essa organização de um cemitério próximo ao hospital.
Os Estados Unidos também se manifestaram sobre o caso. O presidente do país, Joe Biden, disse que o bombardeio não foi promovido por Israel. “Com base no que vi, parece que foi feito pela outra equipe, não por vocês”, disse o norte-americano ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na quarta-feira (18).
Além do que foi dito por Biden, um relatório preliminar do Conselho de Segurança Nacional norte-americano indica que Tel Aviv não é responsável pela explosão. A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que deve fazer uma investigação própria sobre o caso.
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