Trump relata a angustiante tentativa de assassinato no discurso do RNC: “Cada momento que temos na Terra é uma dádiva”

O ex-presidente Donald Trump subiu ao palco na hora final da Convenção Nacional Republicana na quinta-feira e fez um discurso profundamente sincero e angustiante poucos dias depois de ter sobrevivido milagrosamente à bala de um assassino – prometendo curar e unir o país.

O discurso poderoso, que ele escreveu após sua terrível experiência de quase morte, foi um afastamento de sua habitual retórica bombástica e descarada. Ele só se referiu ao seu inimigo político, o presidente Biden, pelo nome uma vez – mas evitou qualquer um dos apelidos zombeteiros que usou para denunciar o presidente no passado, como “Crooked Joe”.

Em vez disso, ele falou à nação sobre a necessidade de “unidade” e contou como os acontecimentos de sábado o impactaram ao traçar um caminho a seguir para a América. Foi seu primeiro discurso público desde que sobreviveu à tentativa de assassinato em um comício na Pensilvânia, no último sábado.

“Estou diante de vocês esta noite com uma mensagem de confiança, força e esperança”, começou Trump. “Juntos, lançaremos uma nova era de segurança, prosperidade e liberdade para cidadãos de todas as raças, religiões, cores e credos.”

“A discórdia e a divisão na nossa sociedade devem ser curadas. Como americanos, estamos unidos por um destino único e por um destino partilhado. Subimos juntos. Ou desmoronaremos”, disse ele, observando que está concorrendo por “todos” os Estados Unidos em seu apelo à unificação.

“Estou concorrendo para ser presidente de toda a América – não de metade da América, porque não há vitória em vencer pela metade. Portanto, esta noite, com fé e devoção, aceito com orgulho a sua nomeação para presidente.”

A sua entrada no palco foi marcada por aplausos entusiásticos dos delegados do RNC, que se aglomeraram no salão de convenções.

Ele relembrou com detalhes arrepiantes o momento em que foi baleado no sábado, descrevendo como ouviu o “zumbido alto” da bala e como “o sangue jorrava por toda parte”.

“O surpreendente é que antes do tiro, se eu não tivesse movido a cabeça naquele último instante, a bala do assassino teria atingido perfeitamente o alvo e eu não estaria aqui esta noite”, disse ele.

“Nenhum de nós conhece o plano de Deus ou aonde a aventura da vida nos levará. Mas se os acontecimentos do sábado passado deixam alguma coisa clara, é que cada momento que temos na terra é uma dádiva de Deus. Temos que aproveitar ao máximo cada dia pelas pessoas e pelo país que amamos”, continuou.

Num momento surpreendente e comovente, Trump beijou o capacete do ex-chefe dos bombeiros Corey Comperatore, que foi tragicamente morto por uma bala perdida disparada pelo atirador, Thomas Crooks, no comício em Butler, Pensilvânia.

“Não há amor maior do que dar a vida pelos outros. Este é o espírito que forjou a América nas suas horas mais sombrias, e este é o amor que levará a América de volta ao cume da realização e da grandeza humana”, continuou Trump.

"Isso é o que precisamos. Apesar de um ataque tão hediondo, estamos unidos esta noite, mais determinados do que nunca. “Nossa determinação é inquebrantável e nosso propósito permanece inalterado: criar um governo que sirva o povo americano melhor do que nunca.”

A família do ex-presidente – incluindo sua esposa Melania e sua filha Ivanka – apoiou-o no camarote VIP para vê-lo aceitar oficialmente a indicação do Partido Republicano diante dos milhares de apoiadores lotados na arena de Milwaukee.

Trump assistiu aos discursos anteriores no camarote, sentado ao lado do astro da música country Jason Aldean, que encabeçou um show após a conclusão do festival do Partido Republicano.

“Estou profundamente honrado por ter a companhia de minha incrível esposa, Melania. Obrigado, Melania, e obrigado também pela sua bela carta à América apelando à unidade nacional”, disse Trump, antes de agradecer carinhosamente ao resto da sua família.

O 45º presidente “rasgou” o discurso preparado que tinha depois de ser baleado no sábado em seu comício, disse seu porta-voz aos repórteres na manhã de quinta-feira. O novo discurso foi muito mais “pessoal” e foi escrito pelo próprio Trump.

Ele então até se desviou de seus próprios comentários preparados por longos períodos – e quebrou o recorde do discurso de aceitação mais longo de um candidato presidencial na história moderna, falando pouco menos de 93 minutos.

A multidão do RNC também mostrou seu apoio a Trump durante toda a semana, usando bandagens brancas nas orelhas em sinal de solidariedade ao ex-presidente, cuja orelha direita foi bem enrolada em gaze.

Durante o seu discurso, os milhares de delegados estiveram atentos e entusiasmados, aplaudindo e cantando o tempo todo.

Trump prometeu acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, acabar com a inflação, acabar com “todas as crises internacionais que a actual administração criou”.

Ele também prometeu acabar com a “crise da imigração ilegal”.

“Sob a nossa liderança, os Estados Unidos serão respeitados novamente. Nenhuma nação questionará o nosso poder, nenhum inimigo duvidará do nosso poder.

“Nossas fronteiras estarão totalmente seguras. Nossa economia irá disparar. Devolveremos a lei e a ordem às nossas ruas, o patriotismo às nossas escolas e, mais importante, restauraremos a paz, a estabilidade e a harmonia em todo o mundo.”

Ele disse que outra presidência de Trump desencadearia uma “Era de Ouro” nos EUA que incluiria um novo “Sistema de Defesa contra Mísseis Cúpula de Ferro para garantir que nenhum inimigo possa atacar nossa pátria”, cidades limpas e uma inovação americana tão grande que o país “em breve seria prestes a encontrar a cura para o câncer, o mal de Alzheimer e muitas outras doenças.”

Trump prometeu “trazer de volta o sonho americano”.

“Com grande humildade, peço-lhe que esteja entusiasmado com o futuro do nosso país”, implorou Trump.

E num argumento final, Trump voltou-se mais uma vez para a necessidade de unidade.

"Nós somos americanos. A ambição é a nossa herança. A grandeza é nosso direito de nascença”, disse Trump. “Mas enquanto nossas energias forem gastas lutando entre si, nosso destino permanecerá fora de alcance. Em vez disso, devemos aproveitar essa energia e utilizá-la para concretizar o verdadeiro potencial do nosso país – e escrever o nosso próprio capítulo emocionante da História Americana.

“Esta noite peço a sua parceria, o seu apoio e peço humildemente o seu voto. Todos os dias, me esforçarei para honrar a confiança que você depositou em mim e nunca vou decepcioná-lo.”

A noite, com o tema “Make America Great Again”, também assumiu um tom pessoal, pois contou com uma lista de palestrantes próximos ao ex-presidente, muitos deles o conhecendo pessoalmente.

A lista de oradores incluía os amigos de longa data de Trump, Steven e Zach Witkoff, o seu ex-secretário de Estado Mike Pompeo e o seu filho Eric Trump. Muitos discursos mencionaram o jogo de golfe de Trump.

Steven Witkoff, um investidor imobiliário baseado em Nova Iorque, pintou Trump como “um homem gentil e compassivo” e descreveu todas as vezes que o antigo presidente esteve ao lado da sua família, mesmo quando “tem tudo a perder e nada a ganhar”.

Outros palestrantes incluíram a personalidade da mídia Tucker Carlson, o lutador profissional Hulk Hogan e a advogada de Trump, Alina Habba. Kid Rock teve um número musical com tema Trump.

A voz de Habba quebrou quando ela descreveu Trump como “seu amigo” em seu discurso carregado de emoção sobre seu relacionamento próximo com seu cliente e seu amor pela música e pelas pessoas.

A presença de Melania foi especialmente notável, já que ela não esteve com Trump durante a campanha de 2024 e permaneceu principalmente fora dos olhos do público.

Após a conclusão da convenção, Trump e Vance irão para seu primeiro comício juntos no sábado, dirigindo-se aos eleitores em Michigan, antes de irem para Middletown, Ohio, na segunda-feira – a cidade natal do senador.

A equipe de Trump espera aproveitar o histórico de Vance no Ohio Rust Belt para conquistar estados indecisos e eleitores tradicionalmente democratas em todo o Centro-Oeste.

Eleitores tradicionalmente democratas em todo o meio-oeste.