Depois de renunciar ao cargo de presidente da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a economista Claudine Gay, 53 anos, disse nesta quarta-feira (3) que foi alvo de pressões por ser uma mulher negra.
Claudine sofreu uma série de críticas de políticos e da imprensa norte-americana no fim de 2023 por indícios de plágio em pesquisas e por suposta leniência com alunos antissemitas.
“Não me escapa o fato de que sou um alvo ideal para sofrer a projeção de todas as ansiedades sobre as mudanças geracionais e demográficas que estão ocorrendo nos campi norte-americanos: uma mulher negra escolhida para liderar uma instituição de renome”, disse a ex-presidente da universidade em um artigo publicado no jornal New York Times.
Claudine disse que a decisão de renunciar foi “dolorosa”, mas “necessária” para cessar os ataques à universidade e a si própria. Afirmou ter sido ameaçada de morte e chamada de “nigger” –a palavra é considerada a maior injúria racial contra a população negra dos EUA, sendo evitada inclusive em veículos de mídia. Há um senso comum entre os norte-americanos de que a expressão carrega uma conotação evidente de racismo, e quem a usa tem o propósito de insultar.
A economista, que é filha de imigrantes haitianos, ficou no cargo por só 6 meses, sendo este o mandato mais curto da história da universidade. Também foi a 1ª mulher negra no comando da universidade.
ANTISSEMITISMO
Em 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel, estudantes de Harvard divulgaram carta em que culpam Israel pela “violência em curso”. Estudantes judeus vieram a público dizer que se sentiam isolados e assustados com a carta.
Três dias depois, em 10 de outubro, Claudine disse que os alunos tinham o direito de se expressar, mas que não falavam em nome de Harvard ou de seus líderes.
“Em minha resposta inicial às atrocidades de 7 de outubro, eu deveria ter afirmado com mais veemência o que todas as pessoas de boa consciência sabem: o Hamas é uma organização terrorista que busca erradicar o Estado judeu”, disse a ex-presidente da universidade no texto do New York Times publicado nesta 4ª feira.
Em 5 de dezembro, Claudine participou de audiência na Comissão de Educação da Câmara ao lado de outras duas presidentes de universidades para falar sobre como lidavam com antissemitismo nos ambientes acadêmicos depois do início da guerra entre Israel e Hamas.
A então presidente da Universidade Harvard se negou a responder a uma pergunta da Comissão de Educação do Congresso norte-americano sobre punições para alunos por declarações consideradas antissemitas. Nesta 4ª feira, Claudine afirmou, que, na ocasião, caiu em uma “armadilha bem preparada” e chamou os “apelos ao genocídio do povo judeu” de “abomináveis” e “inaceitáveis”.
PLÁGIO
Ainda em outubro, jornais norte-americanos publicaram trechos de trabalhos acadêmicos antigos feitos pela ex-presidente da Universidade Harvard alegando que continham plágio. As acusações voltaram a aparecer na segunda-feira (1º) em publicação do jornal Washington Free Beacon e também em texto do New York Times.
“Meus críticos encontraram casos em meus escritos acadêmicos nos quais parte do material duplicava a linguagem de outros estudiosos, sem a devida atribuição. Acredito que todos os estudiosos merecem crédito completo e apropriado por seu trabalho”, afirmou Claudine.
A ex-presidente da Universidade Harvard declarou que, quando soube dos “erros”, pediu “prontamente” correções das revistas nas quais os artigos foram publicados.
“Nunca distorci os resultados de minhas pesquisas, nem reivindiquei crédito pela pesquisa de outros. Além disso, os erros de citação não devem obscurecer uma verdade fundamental: eu defendo com orgulho meu trabalho e seu impacto no campo”, disse.
QUEM É CLAUDINE GAY
Claudine Gay é filha de imigrantes haitianos. Formou-se em economia na Universidade Stanford, em 1992. Recebeu o prêmio Anna Laura Myers de melhor tese de graduação. Em 1998, terminou o seu PhD (equivalente ao doutorado) em Harvard. Ganhou o prêmio Toppan de melhor dissertação em ciência política.
Depois, trabalhou em Stanford como professora. Em 2006, foi contratada por Harvard. Um ano depois, em 2007, assumiu o cargo de docente de estudos africanos e afro-americanos.
Desde 2018, Claudine Gay é diretora da FAS (Faculdade de Artes e Ciências), que reúne cursos de ciências biológicas, físicas, engenharias, ciências sociais, humanidades e artes.
UNIVERSIDADE HARVARD
A instituição foi fundada em 1636 e é uma das mais conceituadas instituições de ensino do planeta. No ranking de melhores universidades do mundo de 2022, da US News & World Report, Harvard está em 1º lugar.
A universidade norte-americana tem um endowment fund (fundo perpétuo de reserva) que chegou a US$ 50,9 bilhões (equivalente a R$ 248,9 bilhões na cotação atual) em 2022.
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