Vindo de leve ganho de 2,92% no ano anterior, o primeiro da pandemia, o Ibovespa encontrou fôlego nesta quinta-feira (30) com giro superior ao observado nas três últimas sessões, para limitar um pouco as perdas de 2021, ainda assim a 11,93%, o pior desempenho desde a retração de 13,31% observada em 2015 – e o primeiro recuo anual desde então.
No último pregão do ano, a referência da B3 subiu 0,69%, a 104.822,44 pontos, perdendo força na reta final com Nova York. Nesta quinta-feira, oscilou entre mínima de 104.106,37 e máxima de 105.269,01 pontos, com giro um pouco melhor, a R$ 27,3 bilhões nesta última sessão do ano, em que o Ibovespa encerra de forma bem distinta da vista em 2020, quando no mesmo dia foi a 119 mil pontos e tocou, naquele 30 de dezembro, a então inédita marca de 120 mil pontos.
Após cinco meses de perdas consecutivas, período no qual cedeu 19,62%, o Ibovespa avançou 2,85% em dezembro de 2021 – na última semana do ano, cedeu 0,07%.
Os dois anos de pandemia mostram grande contraste em relação ao que o precedeu, 2019, quando a referência da B3 subiu 31,58%, o maior ganho desde 2016 (38,9%), que havia sucedido recuo de quase 29% no intervalo entre 2013 e 2015, três anos de perdas sucessivas.
No quarto trimestre de 2021, o Ibovespa acumulou perda de 5,54%, após retração de 12,47% no trimestre anterior, que interrompeu a sequência positiva entre março e junho – o desempenho negativo de janeiro e fevereiro, que colocou as perdas acumuladas no primeiro trimestre a 2%, foi sucedido por reação a partir de março, até junho, mês em que renovou máxima histórica a 131,1 mil pontos e de fechamento, a 130,7 mil, no dia 7. Assim, os ganhos do primeiro semestre foram a 6,54%, com recuperação de 8,01% no intervalo abril-junho.
Por outro lado, os dois piores meses do ano foram setembro (-6,57%) e outubro (-6,74%), que marcaram a transição das dúvidas sobre a estabilidade institucional, até o discurso presidencial de 7 de setembro, para o que se mostrou ainda mais preocupante: a incerteza sobre a situação fiscal.
Para agravar o quadro doméstico, o ano chega ao fim com sinais mais restritivos sobre a orientação da política monetária, especialmente nos Estados Unidos, e alguma dúvida quanto à extensão do dano que a variante Ômicron trará à recuperação econômica global, considerando a recente aceleração do contágio em países do hemisfério norte. No ambiente interno, janeiro e fevereiro tendem a ser meses movimentados para o governo, com o funcionalismo federal se organizando para reivindicar aumento salarial em ano de eleição.
“A bolsa tentou alguma recuperação nesta última sessão do ano, mas ainda pairam questões como a inflação elevada e o nível de juros, e a insegurança fiscal, com a pressão dos servidores por reajuste. Descontrole fiscal, ainda mais em ano eleitoral, tem acarretado certa desconfiança do mercado nesses últimos dias”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, chamando atenção para a dissonância entre a B3 e Nova York, em recordes históricos neste fim de ano, assim como Europa. “Ainda que a Ômicron pese, as economias avançadas têm mostrado que vamos continuar a conviver com isso – e, com vacinação, a reação é leve”, acrescenta.
“Na bolsa brasileira tivemos deterioração de junho em diante, com o fiscal, o monetário e o político, principalmente com a quebra do teto de gastos e a PEC dos Precatórios. A trajetória fiscal se deteriorou muito, trazendo incerteza para 2022, que se agravou de forma geral com as variantes do coronavírus, apesar da expectativa de que estejamos mais perto do fim da pandemia – há ainda contágio, mas com menos letalidade”, diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...