Com sólida trajetória na iniciativa privada e especializado em tecnologia da informação, o perito digital Eduardo Tagliaferro ganhou os holofotes em 2024, ao se tornar peça-chave em um episódio controverso que entrelaçou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF). A polêmica gira em torno do suposto uso da estrutura técnica da Justiça Eleitoral pelo então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, para embasar decisões que ele próprio relatava no STF.
Tagliaferro comandou, entre 2022 e 2024, a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão criado no TSE com o objetivo de monitorar e combater notícias falsas relacionadas ao processo eleitoral. A assessoria foi instituída ainda durante a presidência do ministro Edson Fachin e ganhou protagonismo sob a gestão de Moraes, que assumiu o comando da Corte Eleitoral em agosto de 2022, logo antes das eleições presidenciais.
Foi justamente nesse contexto que Tagliaferro foi nomeado por Moraes como assessor-chefe da AEED. Coube a ele a responsabilidade de supervisionar o mapeamento de postagens e conteúdos nas redes sociais que fossem considerados potencialmente desinformativos ou prejudiciais à integridade do processo eleitoral.
O trabalho do núcleo chefiado por Tagliaferro envolvia a triagem de conteúdos digitais e o envio de relatórios à presidência do TSE, que tinha a prerrogativa de solicitar a remoção de publicações ou suspensão de perfis em plataformas como Twitter, Facebook e Instagram. A atuação da AEED se intensificou durante o pleito de 2022, período em que o TSE protagonizou diversas medidas de enfrentamento à disseminação de boatos sobre o sistema eletrônico de votação.
A atuação de Tagliaferro, no entanto, passou a ser questionada após relatos de que a estrutura da assessoria teria sido utilizada para embasar decisões proferidas por Moraes em sua atuação no STF, alimentando suspeitas de possível conflito institucional.
Até então discreto, Tagliaferro passou a ser figura central em discussões sobre os limites da atuação dos tribunais frente à desinformação, e os contornos jurídicos e éticos da interseção entre inteligência digital e decisões judiciais de alto impacto.
Seu caso ilustra a complexidade do combate à desinformação em um país polarizado e evidencia os riscos — e as pressões — que cercam os bastidores do poder em Brasília, especialmente quando tecnologia e política colidem.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...