"Somente para brancos": aluno denuncia racismo em faculdade de SP

A foto foi tirada por um aluno, que não se identificou, e repassada em grupos no WhatsApp
Por: Brado Jornal 21.nov.2024 às 10h05

Alunos do 3º ano da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (FDSBC), no ABC Paulista, fixaram um cartaz com a frase "Entrada permitida somente para brancos" dentro da sala de aula sob a justificativa de que estariam simulando a segregação racial nos Estados Unidos durante uma atividade pedagógica. O caso aconteceu no início de novembro.

A foto foi tirada por um aluno, que não se identificou, e repassada em grupos no WhatsApp.

O advogado Juliano Amaral, que também é aluno de pós-graduação na mesma instituição, foi contatado por um estudante que recebeu a imagem e registrou um boletim de ocorrência por racismo contra a faculdade.

Após a denúncia, ele foi chamado para participar de uma reunião com o corpo docente da instituição, o professor e alunos que fizeram parte da dinâmica. Na reunião, eles alegaram que a placa foi colocada na porta de entrada da sala, durante a aula e que, no rodapé do papel, havia a informação de que a placa fazia parte de um trabalho acadêmico. A mensagem citada não aparece na foto.

A universidade afirma que, durante a aula de Sociologia e Antropologia, foi realizada uma atividade com o objetivo de promover discussões sobre as consequências jurídicas da prática do racismo e que a turma recebeu a tarefa de analisar e criticar o filme "Histórias Cruzadas" no contexto da legislação brasileira de combate ao racismo.

"O trabalho proposto tinha como objetivo claro combater o racismo, e, para tanto, o grupo elaborou um panfleto e materiais complementares que criticavam cenas do filme que retratavam a segregação racial entre brancos e negros. O material foi inspirado também pela prática de segregação racial abordada no Museu do Apartheid, na África do Sul, onde são utilizados ingressos diferenciados para brancos e negros como forma de impactar o público e demonstrar o caráter reprovável da segregação racial", disse em nota a Faculdade de Direito.

A instituição destacou ainda que os cartazes foram fixados exclusivamente no ambiente da sala de aula "com a finalidade pedagógica de fomentar a reflexão crítica entre os estudantes presentes".

"Histórias Cruzadas" é um filme de 2011, dirigido por Tate Taylor e se passa no Mississippi, nos Estados Unidos, na década de 1960, durante a segregação racial. 

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) disse que o caso foi registrado no 1º Distrito Policial de São Bernardo do Campo, que analisou o ofício enviado pela diretoria da instituição de ensino sobre a atividade pedagógica durante a aula de Sociologia e Antropologia. Após apuração dos fatos, a autoridade policial concluiu que não houve prática de ato criminoso.

Ainda segundo um aluno, casos de racismo na faculdade são recorrentes. Nesta ocasião, o professor sugeriu que os alunos fizessem um teatro com a análise dos filmes - além de "Histórias Cruzadas", eles também viram "Tempo de Matar".

O aluno que fez a denúncia, que não quer ser identificado, disse ainda que o professor pediu que os alunos reproduzissem os filmes e, nesse contexto, foi levada a placa.

Como ele pediu que os alunos viessem a caráter, reproduzir, eles achavam tudo bem reproduzir 'Histórias Cruzadas' em pleno 2024. Todo mundo tem muito medo de falar alguma coisa, são poucos alunos negros. Então, todo mundo tem medo de sofrer retaliação.

Aluno que fez a denúncia e prefere não ser identificado

Segundo o estudante, os alunos negros são em pequeno número e não são ouvidos. "Nessa turma não tem alunos negros. No 3º ano, no geral, são pouquíssimos. Então, tem quem teve medo de denunciar e quem não viu problema. Quando acontece esse tipo de coisa, tudo o que fazem são palestras, mas eles não conversam com professores, não ouvem alunos negros, só fazem as palestras para dizer que estão fazendo algo", continua.

A universidade informou que realiza debates e possui um núcleo de violência onde um dos assuntos abordados é a violência racial. Disse ainda que realiza estudos e palestras sobre o assunto e que conta com coletivos de diversidade dentro da instituição.

"A Faculdade reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente inclusivo e repudia veementemente qualquer forma de discriminação. Para reforçar esse compromisso, disponibilizamos diversos canais de denúncia, como o 'Fale com o Diretor', a Ouvidoria, o contato direto com os coordenadores de curso e uma caixa de denúncias anônimas localizada nas dependências da instituição. Após a recepção das denúncias, as providências cabíveis são tomadas, incluindo a instauração de processos administrativos internos e, quando necessário, a comunicação às autoridades competentes."



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