A história mais importante da humanidade tem como ponto central uma fuga. Quando o Verbo habitou entre nós, José, designado a ser seu glorioso pai e protetor, recebeu em sonho a visita de um anjo, que o alertou sobre a intenção do rei Herodes de matar o Menino Jesus. Assim teve início a corajosa fuga da Sagrada Família.
Já imaginaram se José tivesse decidido enfrentar diretamente o governante? Se ele não protegesse, de forma viril e confiante, aqueles que dependiam dele?
A fuga, portanto, pode ser um ato heroico e digno quando utilizada para a autopreservação e a segurança da família. No entanto, há também algo que nos é solicitado: a submissão aos governantes e autoridades. É importante fazer uma pausa aqui, pois muitos confundem submissão com servidão desmedida e aceitação passiva. Na realidade, trata-se apenas de respeitar as instituições enquanto se continua cuidando dos seus.
Dentro desse contexto, da mesma forma que Eduardo Bolsonaro acerta ao escapar de um regime que deseja sua "cabeça", seu pai errou ao retornar e tentar fazer parte desse mesmo sistema. Jair Messias Bolsonaro foi o homem mais poderoso do país. Seu retorno, sob a crença em acordos políticos com um sistema que historicamente age contra seus interesses, dá a impressão de que ele ignora que o controle e a perda de liberdades já estavam em curso, inclusive durante seu próprio governo. Enquanto isso, seu filho, antes de "escapar", fez chacota das autoridades que ele mesmo ajudou a fortalecer com acordos e concessões. Iludiu seus seguidores com promessas de uma intervenção americana no Brasil e desdenhou de críticos, mesmo ocupando um cargo eletivo.
Nesse duro choque de realidade que a família Bolsonaro enfrenta, o que o povo de bem deste país pode esperar é regeneração e humildade. A posição de exilado não pode justificar a adoção de atitudes controversas e inapropriadas, como as conduzidas por Eduardo Bolsonaro. Mentiras como o fatídico caso do "pen drive", ilusões criadas sobre a suposta interferência dos EUA contra uma ditadura no Brasil e o silêncio diante das represálias morais promovidas por um grupo de "apoiadores" contra políticos, comunicadores e críticos que antes os respaldavam são exemplos de atitudes que evidenciam arrogância e distanciamento das pautas que os ergueram.
A todos os homens é dada a oportunidade de regenerar-se. Após tantas ilusões e pronunciamentos controversos, Jair Bolsonaro, mesmo diante de milhares de presos e perseguidos, insistia até poucos dias que a ditadura só se legitimaria quando ele fosse impedido de concorrer a eleições. Para que a fuga de Eduardo se torne honrosa, é necessário muito arrependimento, reconhecimento humilde de erros e uma busca por verdadeira unidade. Mudanças são essenciais, especialmente no "sistema coordenado de ataques" que a família mantém e que precisa ser revisto urgentemente.
O povo brasileiro jamais pode esquecer que, por anos, "exilados da ditadura militar" foram tratados como heróis nas artes e na política, até que, majoritariamente, revelaram-se ditadores factuais. Abandonar os erros do passado é essencial para evitar que os ditadores do futuro surjam. Nem sempre a retirada é nobre como na história da Sagrada Família, mas pode ser. E isso dependerá sempre das verdadeiras transformações daqueles que decidem fugir.
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