O ex-prefeito ACM Neto, durante o período de oito anos em que esteve como mandatário da capital soteropolitana, sempre figurou no topo das avaliações dos “melhores gestores do país”, entre as capitais, segundo dados de pesquisas produzidas pelos principais Institutos (notadamente Ibope e Data Folha).
Ainda que levemos a sério as tais “pesquisas” e que desconsideremos os critérios objetivos destas, que basicamente perguntavam aos eleitores se o gestor era “ótimo, bom, regular ou ruim”, o fato é que taislevantamentos sempre foram alvos de discordância.
De forma determinante, a interpretação é de que a assertiva de que ACM Neto foi considerado “ótimo”, pela maioria dos eleitores, é carregada de subjetividade, na medida em que o seu antecessor, o ex-prefeito João Henrique, de forma quase que unânime, foi considerado um dos piores prefeitos da história de Salvador e, dessa forma, as repostas já são enviesadas no imaginário popular, porque a sua base de comparação já era a mais baixa possível, o que fez com que, indubitavelmente, a gestão dele pudesse ter sido melhor avaliada do que de fato foi. Em suma, “em terra de cego, quem meio olho é rei”.
Por outro lado, ao mesmo tempo, também, tais resultados sempre serviram de instrumento publicitário para o próprio prefeito, que os utilizou repetidamente, enfaticamente, como peça de propaganda durante os últimos anos de sua trajetória política, até a atualidade.
Ainda que reconheçamos o mérito de sua gestão no que tange aos avanços significativos na requalificação urbanado miolo da cidade, com obras de infraestrutura, recuperação de espaços públicos, como a construção de praças, melhoramento de vias centrais, iluminação, além da inegável melhoria de alguns dos serviços públicos, o fato é que os meios pelos quais eles foram obtidos são excessivamente onerosos para todos os soteropolitanos, como exemplo a elevação absurdas dos tributos municipais.
À frente da prefeitura, ACM Neto empreendeu uma verdadeira fúria arrecadatória, promovendo crescimento exponencial dos tributos de competência municipal.
O aumento absurdo do IPTU, por exemplo, ganhou vergonhoso destaque nacional, em função da sua desarrazoabilidade, que desconsiderou a capacidade contributiva dos cidadãos, praticamente impondo o confisco aos proprietários de imóveis em Salvador. Ainda nessa mesma linha, promoveu a consolidação da indústriadas multas de trânsito, apesar da péssima mobilidade urbana, estabelecendo a orientação de multar por multar, só para gerar receita.
Não por acaso, ACM Neto saiu gabando-se de ter supostamente deixado cerca de R$ 3 bilhões em caixa para o seu sucessor, Bruno Reis, como se isso, por si só, realmente devesse ser motivo de comemoração. Tais números encontram-se sob questionamentos. Será que foi tudo isso mesmo? O fato é que o atual prefeito, logo nos primeiros meses de gestão, buscou apoio do governo federal e conseguiu respaldo para avalizar aprovação de um empréstimo de R$ 600 milhões junto ao Banco Mundial, alegando insolvência para o cumprimento de compromissos realizados na gestão anterior.
Neste sentido, mesmo admitindo que tais números sejam verdadeiros, há de se questionar se um governo pode realmente ser considerado bom, levando em conta apenas a avaliação da gestão fiscal, desconsiderando a máxima de que governo bom é aquele que efetivamente melhora a vida das pessoas, até porque, em dados mais objetivos, Salvador caiu em praticamente todos os rankings, quando comparada com as demais capitais brasileiras.
Salvador perdeu, pela primeira vez, por exemplo, o posto de maior PIB da Região Nordeste. No final de 2020 Fortaleza ultrapassou Salvador e tornou-se a capital de maior PIB da região. Vale-se notar, ainda, que Recife também registrou, praticamente, um empate técnico e, ao final do ano de 2021, poderá ultrapassar Salvador no ranking da geração de riquezas. Será que este dado não é mais relevante e objetivo do que qualquer pesquisa de opinião?
Tal desdobramento é fruto dos entraves da própria desastrosa gestão que criou um ambiente absolutamente hostil aos novos empreendimentos e aos negócios em geral, em consequência da elevação da carga tributária, aumento da burocracia, excesso de rigor na fiscalização, entre outras variáveis que fizeram a economia soteropolitana se retrair como nunca antes. Mesmo durante a pandemia, a prefeitura, que impôs lockdows desprovidos de critérios, em momento algum abriu mão da arrecadação, sufocando os contribuintes e a população em geral, que sofreu com o agravamento dos índices socioeconômicos.
Ao final da gestão de ACM Neto, Salvador retomou o primeiro lugar do ranking de capital do desemprego, mais um fato que pesquisa de opinião alguma pode maquiar. Além disso, mesmo a despeito dos supostos avanços alardeados, Salvador permanece ocupando as últimas colocações, quando comparada com as demais capitais, em todos os outros índices, como educação e saúde.
Até mesmo em sua vocação natural, o turismo, Salvador regrediu. De um dos destinos principais e mais demandados do mundo, passou a ser última opção, tornando-se uma espécie de refugo das rotas turísticas. Por consequência, a qualidade do gasto com o turismo em Salvador é um dos piores do Brasil.
O próprio Carnaval, historicamente uma festa privada e autossuficiente, que ajudava a fomentar a economia baiana, perdeu relevância, a partir da interferência da prefeitura que, em conluio com o governo do estado, desarticulou as relações de mercado que davam suporte à organização da festa. Os blocos privados de carnaval perderam espaço para as atrações “gratuitas” e o Carnavalde Salvador, outrora a festa mais popular do planeta,tornou-se uma grande parada gay, uma festa LGBT.
Enfim, ACM Neto foi mesmo um bom prefeito paraSalvador? Uma leitura imparcial dos fatos contraria as pesquisas de opinião divulgadas por ele. Os dados objetivos apontam para uma vitória em outra categoria: a de um dos piores da história. Para tal conclusão, é só observarmos a realidade, comparando de qualidade de vida do soteropolitano antes e depois de sua gestão, comparando a nossa capital com as demais da federação.
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